quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sonho

Acordou na manhã gélida, repeliu a preguiça, encarou com coragem. Engoliu o café com repulsa, olhou pro santo, desejou ter fé. Saiu pela rua desenfreado, entre carros e motocicletas, como se também tivesse motor. Tomou a brisa no corpo, gelou o coração. Correu sem destino, escreveu um livro, fez rotos planos. Viveu todos os dias de cada vez. Encarou cada ano como se fosse o último. Cortou na própria carne, sentiu prazer em cada dor, amou de olhos fechados, gritou. Sentiu a alma aquecer. Deu de ombros para inveja, para as pessoas, para a tristeza. Se olhou no espelho, sentiu orgulho de si mesmo. Da pele desbotada, do coração pulsante, do pulmão cansado. Decidiu que era assim que devia ser: muito tudo, tudo com intensidade. Nada de coisas amenas. Cada ato, um salto de pará quedas. Cada decisão, um pulo de uma cachoeira, o corpo quente, a água gelada. Era assim que devia ser: um choque. Aguentou a condenação, ouviu gritos de maluco. Soube que o chamavam irresponsável, não se importou. Absteu-se de viver nesse mundo e criou o seu próprio. Do seu jeito, à sua imagem. Se fez elástico, usou e abusou. Viveu. Como ninguém nunca teve coragem.

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